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© Frederico Mira George, @ff |
#44
A partir da meia noite do dia 1 de Janeiro de 1980, passou a chamar-se «Afonso». Só «Afonso», que não voltou a revelar apelidos.
A noticia espalhou-se, Afonso «punha música» [na altura era a expressão usada, só no final dos 80 aparecia a expressão «DJ] numa das épicas discotecas do Cais do Sodré. Em 83, aqueles que o conheciam pela primeira vez perguntavam: «Afonso quê?», ao que invariavelmente ele respondia: «Afonso Só». Assim ficou. Até ele passou a assinar assim.
Isto vem a propósito porque explica o fenómeno generalizado de alterações de nomes nos artistas daquela época em Portugal. Dos actores, aos pintores, havia sempre um «Qualquer-coisa Só».
De igual maneira foi o tempo de escritores publicarem sob extensas carreiras de nomes e apelidos com intenção métrica e nunca como testemunho genealógico. Ou, pelo contrário, usavam transcrições fonéticas de uma só letra, como se o som de uma letra contivesse todo o conteúdo do autor. Destas variantes todas vem-me à memória: Paula Só, Al Berto, João Miguel Fernandes Jorge, Mimi, Ana Jota, PêPê... a lista seria infinda. Só nos anos 90 se regressou a assinaturas simples (outras particularidades viriam em 90, como a introdução de iniciais entre os apelidos).
A forma como os artistas convocam as suas energias e expulsam as suas propostas está sempre espelhada na maneira como assinam e se dão a conhecer. Nos anos 80 declarava-se o estado de coma das assinaturas de «marca». De alguma forma foi mesmo a morte dos nomes com pedigree. Exultava-se a criação plástica de tudo, até dos nossos próprios nomes.
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