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© Frederico Mira George |
#42
Combinámos às quatro em Campo de Ourique, no Ruacaná. Em 83 o café ainda conservava um olor a revoltas e conspirações extremistas. Ali se reuniram os anarco-sindicalistas durante a insurreição republicana de 10, ali se reuniu a extrema-esquerda (trotskistas na maioria) entre 74 e 78. Não podíamos ter escolhido lugar mais inspirador para a sublevação possível daquele dia: comprar telas.
A revolução (entenda-se que sempre que usar a palavra «revolução» sem acrescento me refiro a 25 de Abril de 1974), tinha trazido a pintura para a rua. A arte na generalidade. Naquele ano principiava o regresso do talento às prisões e à disciplina autoritária do mercado. Os muros pintados de alegria revolucionária começavam a ser «varridos» sem contemplação, enfim, dava-se início à limpeza da memória artística-popular de Abril.
Tínhamos de regressar à pintura caseira, voltar para dentro dos limites da tela, das molduras. Cada um faria o seu «quadro».
Eles tinham conseguido separar-nos, e agora? Onde se compram telas?
(...)
©
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