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c Frederico Mira George, @ff |
#46
A carta era antiga. Margarida e Samuel tinham andado juntos no liceu. De todo o grupo, eram os que se conheciam há mais tempo. Estavam no 6º ano* quando o 25 de Abril rompeu. Ora, 6º ano... 16 anos?
Samuel era um homem sem sorriso (já era nessa altura do liceu). Nele se transportava um fio de redução e tristeza que nunca ninguém cuidou ou não quis cuidar. Escrevia cartas. Na realidade escrevia cartas mas a maioria eram para Margarida. Era ela a razão dele escrever. Por vezes redigia em duplicado. Usava papel químico. Um exemplar ficava com ele, o outro enviava a Margarida. Apesar do texto ser o mesmo, o entendimento era desigual aos olhos de um e aos olhos do outro. O que Sam escrevia não era o que Gui lia.
§
A carta, das primeiras, Gui encontrou-a a arrumar gavetas. Não tinha memória de a ter lido. Mas o envelope rasgado e as páginas moídas da leitura bem o provavam.
Tarde demais, Margarida ao reler a antiga carta percebeu.
©@ff
*Actual 10º ano de escolaridade
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