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c Frederico Mira George (Crucificação II) |
#28
Caminhou lentamente em direção ao café. De manhã tudo parecia ficar longe. Aquele carreiro habitual parecia ilimitado e o Sol feria-lhe os olhos.
J ouviu o som do ruir dos seus pensamentos. Ter-se-ia Babel instalado? Ao tentar exprimir-se cada fala levava a um equivoco e esse era agora o seu maior terror.
Dilatou ainda mais os passos: «Se este caminho for muito longo, tenho tempo para esclarecer as palavras mal julgadas...»... repetia para si como um mantra.
Na verdade, J precisava de tempo para arrostar as hidras que a vida lhe trazia. Os dragões que lhe assomavam à estrada não eram diferentes nem mais ofensivos que os de toda a gente, ele é que se sentia inábil e exaurido.
O Sol mantinha-se frontal. J paralisou por uns momentos. Na rua tudo parecia perpendicular.
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