«O Peixe de Herberto»©FMG

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Cartaz

©Frederico Mira George


#32

A barbearia Nogueira fica na esquina da rua onde estou hospedado. Fechou de vez esta semana. Tinha aberto ao público há sessenta e um anos.
Em criança ia lá cortar o cabelo pela mão de uma criada que tinha o serviço de me cuidar e ainda cheguei a conhecer o Sr. Nogueira.
Estive quase trinta anos sem lá pôr os pés.
Não sabendo que ia fechar, um dia antes do fim, retornei àqueles bancos de napa castanha. Claro que notei (notava sempre que passava à porta) que aquilo estava deserto e já só tinha um empregado. Das antigas enchentes de homens a «fazer-barbas» e «cortes-rápidos», já nada se notava.
Nunca julguei regressar àquele «salão». A falta de dinheiro e a incapacidade de ir mais longe, fez-me ir nesse dia. Lá estava o Sr. Rodrigues, ali empregado desde os 14 anos e feito dono com a debandada geral dos colegas depois da morte do fundador.
Encantador como nos tempos áureos da barbearia, cumprimentou-me sem me reconhecer e ali estivemos, conversando e brincando como se tudo pudesse ser risonho no futuro.
No dia seguinte, na pastelaria, comentava-se o encerramento compulsivo da loja e a penhora das finanças que até calicidas fora de prazo reteve.
A barbearia Nogueira é agora um buraco de paredes nuas e do Sr. Rodrigues não há novidade.
Extraordinariamente, todas as noites, alguém continua a entrar no «salão» e a acender as luzes do grande letreiro que encima a porta.
©

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