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©Frederico Mira George |
#29
O odor do templo tinha mudado. Sentei-me e fitei os vitrais pacificamente.
Entretanto entrou um casal que sussurrava e às escondidas tentava fotografar pinturas. Depois vieram umas irmãs devotas rezando o terço tão alto que o Unigénito, lá, à direita do Pai, com certeza as ouviria pelo ouvido humano. Passados uns minutos, mais de centenas de japoneses entravam descaradamente fotografando tudo.
Deixei de ver os vitrais, extinguiu-se qualquer espasmo pacífico do meu coração e senti que tinha o direito de ostentar insígnias de superioridade, gritar e maldizer aquela turba... talvez nem todos. O casal envergonhado tinha-me deixado uma certa ternura nos lábios. É assim que nos massacres se escolhem as vítimas: juízos de pequenas impressões.
©
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