«O Peixe de Herberto»©FMG

domingo, 22 de maio de 2011

Cartaz

©Frederico Mira George
®F.M.G./DC/Com
#38

No dia seguinte veio ver-me e trazia um saco com revistas alemãs. Eram preciosas.
Nos anos 80, em Lisboa, começavam a brotar pequenos movimentos de artistas: pintores, escultores, poetas, o famoso «regresso à pintura» com a exposição Homeostética na Sociedade Nacional de Belas-Artes e o nascimento de minúsculas galerias que haviam de se tornar desmedidas: «Cómicos», «Módulo», «Quadrum», «Diferença»... Geração-Perdida, como a baptizaram. E em pano de fundo profanava-se o rock cantando em português com ritmos exagerados, próprios de quem esteve demasiado tempo calado.
Saber como pintavam os alemães era água para quem está à seca. E ele sabia o tanto que eu ansiava daquela Berlim Oriental. Paris deixara de ser o centro do mundo, Nova-Iorque começava sair das Sombras e Nevoeiro*. Lisboa sentia-se perdida como é seu rosário.
Ficámos a passear entre pinturas de Baselitz, fotografias de Wenders... Não voltámos às feridas da conversa anterior. O afecto morria ali.
©

*Shadows and Fog, filme de Woody Allen

Sem comentários:

Enviar um comentário