«O Peixe de Herberto»©FMG

sábado, 14 de maio de 2011

Cartaz

© Frederico Mira George


# 30

Costumava perguntar-me porque serias tão reluzente, com uma aptidão tão apurada para a observação justa das questões mais íntimas dos outros. Conseguias ganhar a fé perfeita de qualquer um. Primeiro em conversas que se iniciavam banais e que depois conquistavas para os terrenos mais difíceis de partilhar. Isso acontecia amiúde, mesmo com desconhecidos em encontros sociais... trabalho... Qualquer cenário te dava terreno para chegares perto da intimidade alheia.
O truque, se havia truque, talvez estivesse no facto de entabulares os diálogos lançando, de surpresa, uma revelação privada dos teus dias com tamanho despudor que instantaneamente despertava a sensação de seres alguém sem nada a esconder a quem se podia replicar fosse o que fosse de igualmente privativo sem qualquer constrangimento. Digo isto do “truque”, pois passada essa primeira confidência de acostagem ao território do “outro”,  não voltavas a expor algo teu. Também em relação a isto, as figuras que escolhias (e tu escolhias...), por instinto, assumiam que por humildade calavas sobre ti tornando-te totalmente dedicado a ouvir.
Hoje ao ler num dicionário a definição de mago, foi como no significado bastasse constar o teu nome: Siddhartha.
©

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